domingo, 20 de abril de 2014

Osho: ENCONTROS E DESENCONTROS

Imagens por Srta. Lobo
Pergunta:
Amado Osho, ultimamente eu tenho percebido que o meu companheiro é um estranho para mim. Ainda assim, existe uma vontade intensa de superar a separação entre nós. É quase uma sensação de que nós somos linhas correndo paralelas, uma à outra, mas destinadas a nunca se encontrarem. Amado Osho, o mundo da consciência é como o mundo da geometria? Ou existe uma chance daquelas linhas paralelas poderem se encontrar?

Dhyan Amiyo, essa é uma das grandes misérias que todos os amantes tem que encarar: não há como os amantes não terem esse estranhamento, esse desconhecimento, essa separação. Na verdade, 
todo o funcionamento do amor se baseia no fato dos amantes serem polaridades opostas. Quanto mais distantes eles forem, mais atraentes eles serão. A sua separação é a sua atração.

Eles se aproximam, eles se aproximam muito, mas eles nunca se tornam um. Eles chegam tão próximos, que há mesmo uma sensação de que só um passo a mais e eles se tornariam um. Mas aquele passo a mais nunca é dado e ele não pode ser dado por uma lei natural.

Ao contrário do que se espera, quando eles estão muito próximos, imediatamente começam a se tornarem separados de novo, afastando-se para longe. 
Porque quando eles estão muito próximos, a atração é perdida, e aí eles começam a brigar, a ficar ranzinzas, a rosnar. Essa é a maneira de se criar distância novamente.

assim que a distância surge, imediatamente eles começam a sentir-se atraídos. E aí, isso segue como num ritmo, se aproximando, se afastando, se aproximando, se afastando. Existe uma vontade de ser um, mas no nível biológico, no nível do corpo, tornar-se um não é possível. Mesmo enquanto vocês fazem amor, vocês não são um, a separação no nível físico é inevitável.

Você está dizendo, "Ultimamente eu tenho percebido que o meu companheiro é um estranho para mim". Isso é bom. Isso é parte de uma compreensão que está crescendo. 
Somente pessoas infantis pensam que elas conhecem umas às outras. Você não conhece nem a si mesmo, como se pode conceber que você conheça o seu companheiro?

Nem o seu companheiro conhece a si mesmo, nem você conhece a si mesma. Dois seres desconhecidos, dois estranhos que nada sabem a respeito deles mesmos estão tentando conhecer um ao outro. Isso é um exercício fútil. 
Isso está fadado a ser uma frustração, um fracasso. E é por isso que os amantes ficam raivosos uns com os outros.

Eles pensam que talvez o outro não esteja permitindo a sua entrada no seu mundo particular. "Ele está me mantendo afastada, ele está me mantendo à distância". E ambos seguem pensando da mesma maneira. E isso não é verdadeiro, todas as reclamações são falsas. 
Eles simplesmente não compreendem a lei da natureza.

Ao nível do corpo, vocês podem se aproximar mas vocês não podem se tornar um. 
Apenas no nível do coração vocês podem se tornar um, mas só momentaneamente, não permanentemente.

Ao nível do ser, vocês já são um. Não existe a necessidade de se tornar um. Isso apenas tem que ser descoberto.

Amiyo, você está dizendo, "Ainda assim existe uma vontade intensa de superar a separação entre nós". Se você seguir tentando no nível físico, você irá fracassar. A vontade simplesmente mostra que 
o amor necessita ir além do corpo, que o amor quer alguma coisa mais elevada que o corpo, alguma coisa maior que o corpo, alguma coisa mais profunda que o corpo.

Mesmo o encontro de coração a coração, embora doce, embora imensamente prazeroso, é ainda insuficiente, porque ele acontece apenas por um momento e, em seguida, de novo, estranhos são estranhos. 
A não ser que vocês descubram o mundo do ser, vocês não serão capazes de satisfazer essa vontade de se tornar um.

E o fato estranho é que 
no dia em que você se tornar um com seu amante, você se tornará um com toda a existência também.

Você está dizendo, "É quase uma sensação de que nós somos linhas correndo paralelas, uma à outra, mas destinadas a nunca se encontrarem". Amiyo, talvez você desconheça a geometria não-Euclidiana, porque ela ainda não é ensinada em nossos institutos educacionais. Nas universidades ainda se ensina a geometria Euclidiana que surgiu há dois mil anos.

Na geometria Euclidiana, linhas paralelas nunca se encontram. Mas já foi descoberto que se você continuar e continuar, elas se encontram. A última descoberta é que não existem linhas paralelas, por isso é que elas se encontram. Você não pode criar duas linhas paralelas.
As novas descobertas são muito estranhas. Você não pode nem mesmo criar uma linha reta, porque a Terra é redonda. Se você criar uma linha reta aqui e se você seguir desenhando a partir de ambas as extremidades, ao continuar e continuar, finalmente você descobrirá que ela se tornou um círculo.

E se uma linha reta desenhada até o final se torna um círculo, antes de tudo, ela não era uma linha reta, ela era apenas parte de um círculo muito grande, e uma parte de um grande círculo é um arco, não uma reta. 
As linhas desapareceram na nova geometria não-Euclidiana, e não havendo linhas, o que dizer sobre linhas paralelas? Não existem linhas paralelas também.

Assim, 
se fosse uma questão de linhas paralelas, existiria uma chance de que os amantes pudessem se encontrar em algum lugar, talvez na velhice, quando eles já não pudessem brigar, quando eles já não tivessem nenhuma energia para isso, ou quando eles tivessem se tornado tão acostumados... aí, qual seria a questão? Eles usaram os mesmos argumentos, eles tiveram os mesmos problemas, os mesmos conflitos, ambos já estão entediados um com o outro.

Nesse longo trajeto, os amantes param para conversar um com outro. Qual é o sentido dessa conversa? Porque começar a conversar significa começar a argumentar, e sempre é o mesmo argumento, isso não vai mudar. E 
eles têm argumentado isso tantas vezes e chegam ao mesmo fim. Mas mesmo então, as linhas paralelas, no que se refere aos amantes... Em geometria elas podem começar a se encontrar, mas no amor não há qualquer esperança, elas não podem se encontrar.

E é bom que eles não possam se encontrar porque se os amantes pudessem satisfazer sua vontade de se tornar um ao nível do corpo físico, eles nunca iriam olhar para o alto. Eles nunca iriam tentar descobrir aquilo que está muito mais oculto no corpo físico: a consciência, a alma, Deus.

É bom que o amor fracasse, porque o fracasso do amor, mais cedo ou mais tarde irá levar você a uma nova peregrinação. A vontade irá atormentar você até que ela traga você ao templo onde o encontro acontece. Mas o encontro sempre acontece com o todo... no qual o seu amante estará, mas no qual as árvores também estarão, e os rios, as montanhas e as estrelas.

Em tal encontro, somente duas coisas não estarão presentes: o seu ego não estará lá e o ego do seu amante não estará lá. Além dessas duas coisas, toda a existência estará lá. 
E esses dois egos eram verdadeiramente o problema, era o que estava fazendo deles duas linhas paralelas.

Não era o amor que estava criando problemas, era o ego. Mas a vontade não será satisfeita. Nascimento após nascimento, vida após vida, a vontade irá permanecer, a não ser que você descubra a porta certa para ir além do corpo e entrar no templo.

Simplesmente mantenha a sua vontade fervilhando, acesa. Não perca o coração. 
A sua vontade é a semente da sua espiritualidade. A sua vontade é o começo da união maior com a existência. O seu amante é simplesmente uma desculpa.

Dhyan Amiyo, não fique triste. Fique alegre. 
Alegre-se por não haver possibilidade de encontro no nível físico. Senão, os amantes não teriam caminho algum para a transformação. Eles iriam ficar empacados um com o outro, eles iriam destruir um ao outro. E não há dano algum em se amar um estranho. Na verdade, é mais excitante amar um estranho.

Quando vocês não estão juntos, existe uma grande atração. Quanto mais vocês estão juntos, mas a atração se torna embotada. Quanto mais vocês se tornarem conhecidos um do outro, ainda que superficialmente, menor será a excitação. 
Muito cedo a vida se tornará uma rotina.

As pessoas seguem repetindo a mesma coisa, muitas e muitas vezes. Se você olhar para as faces das pessoas no mundo, você ficará surpresa: Por que essas pessoas parecem tão tristes? Por que os seus olhos aparentam que elas perderam toda a esperança? O motivo é simples: 
o motivo é a repetição.

O homem é inteligente. A repetição cria tédio. 
O tédio traz uma tristeza porque a pessoa sabe o que vai acontecer amanhã, e depois de amanhã... Até a pessoa ir para a sepultura, acontecerá o mesmo, a mesma história.

Um judeu e um polaco estavam sentados num bar acompanhando o noticiário na televisão. No noticiário eles mostraram uma mulher em pé no terraço de um prédio ameaçando se jogar. O judeu disse ao polaco: "eu quero fazer uma aposta com você. Se ela se jogar você me paga vinte dólares. Se ela não se jogar, eu lhe pago vinte dólares. Ok?"

"Tudo bem", disse o polaco.

Poucos minutos depois, a mulher se jogou do terraço e se matou. O polaco pegou sua carteira e entregou vinte dólares ao judeu. 

Poucos minutos depois, o judeu se voltou para o polaco e lhe disse, "Olha aqui, eu não posso ficar com esses seus vinte dólares. Eu tenho que lhe confessar que eu já tinha visto esse noticiário hoje mais cedo. Foi uma repetição."

"Não, não", disse o polaco, "fique com o dinheiro, você ganhou por honra e mérito. Fique sabendo que eu também vi esse noticiário hoje mais cedo na TV."

"Você viu?", disse o judeu, "Bem, então por que você apostou que a mulher não iria se jogar?"

"Bem", disse o polaco, "Eu não pensei que ela iria ser tão estúpida ao ponto de fazer aquilo duas vezes!"

Mas a vida é assim... Essa tristeza no mundo, esse tédio e essa miséria podem ser mudados se as pessoas souberem que elas estão procurando pelo impossível. Não procure pelo impossível. Descubra a lei da existência e siga-a. A sua vontade de ser um é o seu desejo espiritual, é a sua natureza religiosa verdadeiramente essencial. Você está apenas focando a si mesma no ponto errado.

O seu amante é apenas uma desculpa. Deixe que seu amante seja apenas um experimento de um grande amor, o amor por toda a existência.  
Deixe que sua vontade seja uma busca de seu próprio ser interior. Ali, o encontro já está acontecendo. Ali, nós já somos um.  Ali, ninguém jamais está separado.

A vontade está perfeitamente certa, apenas o foco do desejo não está certo. Isso está criando o sofrimento e o inferno. 
Simplesmente mude o foco e a sua vida se tornará um paraíso.

Osho, em "The Hidden Splendor"
Tradução: Sw. Bodhi Champak
Fonte: Osho Brasil

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